KaosArte

O Pasto da Koltura do KaosInTheGarden

Friday, August 31, 2007


Este blog chjegou ao fim dos seus dias. Agora estou no
WEHAVEKAOSINTHEGARDEN

Monday, April 03, 2006

Mudança temporária do Kaosarte para opafuncio.blogspot.com

Devido aos problemas que se verificam na apresentação do blog este encontra-se suspenso temporariamente. Visite o novo blog opafuncio.blogspot.com.

Problems with this blog. Visit opafuncio.blogspot.com

Sunday, April 02, 2006

Tributo a Mário Viegas

Rifão Quotidiano - Mário Henrique Leiria

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito cansada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

Saturday, April 01, 2006

Os Meninos Neo-Nazis

Os Meninos Nazis

O país vai de carrinho
Vai de carrinho o país
Os falcões das avenidas
São os meninos nazis
Blusão de cabedal preto
Sapato de bico ou bota
Barulho de escape aberto
Lá vai o menino-mota
Gosta de passeio em grupo
No mercedes que o papá
Trouxe da Europa connosco
Até à Europa de cá
Despreza a ralé inteira
Como qualquer plutocrata
Às vezes sai para a rua
De corrente e de matraca
Se o Adolfo pudesse
Ressuscitar em Abril
Dançava a dança macabra
Com os meninos nazis
Depois mandava-os a todos
Com treze anos ou menos
Entrar na ordem teutónica
Combater os sarracenos
Os pretos, os comunistas
Os Índios, os turcomanos
Morram todos os hirsutos!
Fiquem só os arianos !
Chame-se o Bufallo Bill
Chegue aqui o Jaime Neves
Para recordar Wiriamu,
Mocumbura e Marracuene
Que a cruz gamada reclama
De novo o Grão-Capitão
Só os meninos nazis
Podem levar o pendão
Mas não se esqueçam do tacho
Que o papá vos garantiu
Ao fazer voto perpétuo
De ir prà puta que o pariu


(by José Afonso)

Friday, March 31, 2006

Vocábulos Amados

A palavra

Pablo Neruda

... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)


MAKE LOVE NOT WAR

Thursday, March 30, 2006

Demissão


Demissão

Este mundo não presta,venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão:sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos se dependentes.

Josá Saramago

Carlos Tê: Estrela De Rock And Roll

Não quero ser o tão falado detergente
Para dissolver o teu vazio suavemente
Talvez cantar todo o meu sonho
Num castelo de rimas
Sem ter glutões milagrosos
Na patente dos meus enzimas
Viver em estampa no peito da tua camisola
Autocolante no couro da tua sacola
Estrela distante
No céu da tua memória
Mito coroado com a poeira
E com a espuma da glória
Não tenho jeito para estrela de rock and roll
Não tenho jeito para estrela de rock and roll
Vaguear no palco perdido entre as luzes
Sangue e vinil na febre louca do show biz
Quando eu morrer talvez triplique
A minha fama
A overdose do costume
Só para dar mais um toque ao drama
Não tenho jeito para estrela de rock and roll
Não tenho jeito para estrela de rock and roll .

O meu Poeta Carlos Tê

Assisti há pouco a um Café com Letras na Biblioteca Municipal de Algés com a presença de Carlos Tê. Não tenho por hábito participar nesse género de tertúlias, embora nada tenha contra elas, antes pelo contrário, mas confesso que desta vez a personalidade convidada me interessava particularmente. Isto porque Carlos Tê ocupa um papel importante nos meus gostos literários. No folheto dizia “Carlos Tê tem-se destacado principalmente como autor de canções”. Ora, mais do que “autor de canções”, Carlos Tê para mim é um Poeta. E é mesmo aquele poeta que melhor traduz em poesia a realidade deste tempo português que tenho atravessado. Por isso, quando chegou o momento do público interagir, eu perguntei-lhe se ele tinha algum preconceito em relação à poesia ou às letras que o levasse sempre a apresentar-se como letrista e não como poeta. Falei em preconceito com a mera intenção provocatória, no bom sentido, para ver se Carlos Tê se picava, para ver como reagia, pois eu sabia que ele não ia nem por nada gostar da palavra, muito menos aplicada à sua pessoa. E na verdade não a merecia. Imediatamente respondeu, pois tem resposta rápida para todas as perguntas, que não tinha preconceito nenhum em relação à poesia mas que a poesia era algo que ocupava um lugar superior, algures entre a narrativa e a filosofia. E que as letras obedeciam a ritmos [e a poesia também não obedece?!] E que muitos se julgavam poetas e não eram. A resposta foi tão pronta e tão categórica, e o local público afinal tão pouco convidativo a manter um diálogo, que me calei, vencida mas não convencida.
Carlos Tê revelou algumas vivências que me pareceram bastante significativas e muito despretenciosas. Nascido no seio de uma família modesta no Portugal de antes da revolução, no tal país cinzento narcotizado para a informação e para a cultura, Carlos Tê não tinha livros em casa. O seu contacto com os livros foi feito através do catálogo que o vendedor do Círculo dos Leitores lhe levava a casa. Carlos Tê passou a ler um pouco aleatoriamente o que lhe vinha parar às mãos. Mas talvez precisamente por causa disso foi aguçando o seu gosto literário. Foi no entanto a música anglo-americana que chegava de fora, o rock, os blues, que maior influência causou na sua formação cultural. Naquele tempo a música ouvia-se de letra na mão, a cantar cada palavra, e as letras daquelas músicas tinham a força de uma revolução que ainda não tinha acontecido ou que ainda não se tinha instituído. Talvez seja por isto, porque as letras dessas músicas tiveram na altura maior peso do que a poesia, que Carlos Tê insista em afirmar que é um letrista. Também porque a humildade é uma qualidade em vias de extinção que Carlos Tê parece desejar preservar. Eu também não gosto de ver ninguém a apregoar “eu sou o poeta”. Mas para mim ele é verdadeiramente um Poeta. Porque para mim há letras de músicas que são verdadeiros poemas e as letras de Carlos Tê são dessa casta. Voltando as coisas ao contrário, parece quase que o preconceito é meu, mas não é. Para mim a poesia não tem que ocupar um lugar etéreo, algures entre o céu e a terra. A poesia é tudo aquilo que eu sentir como poesia. Há letras de músicas que eu também cantava de disco na mão que são os meus poemas e não há ninguém no mundo que me possa convencer que isso não é poesia. Nem mesmo um Poeta como Carlos Tê.

Tuesday, March 28, 2006

Dia Mundial do Teatro: Homenagem ao grande Mário Viegas


TEATRO
Por Mário Viegas


10 mandamentos para 1 espectador de teatro

1º NÃO CHEGARÁS ATRASADO, incomodando a concentração daqueles que estão a Representar e dos outros (que chegaram religiosamente a horas) que estão a assistir ao Santo Sacrifício do Teatro.
2º NÃO FALARÁS BAIXINHO com o ou a acompanhante; incomodando com a tua inclinação de cabeça o Espectador de trás, e distraindo os Actores celebrantes do Santo Sacrifício do teatro.
3º NÃO ADORMECERÁS NEM RESSONARÁS, dando marradas para a frente ou para trás, ou pondo a mão nos olhos para os outros pensarem que estás muito concentrado no Santo Sacrifício do teatro.
4º NÃO TOSSIRÁS NEM TE ASSOARÁS com grande ruído, escolhendo as melhores pausas dos celebrantes do Santo Sacrifício do Teatro.
5º NÃO TE ABANARÁS constantemente com o programa, distraindo os que estão, religiosamente, ao teu lado e, irritando os que estão no palco a celebrar o Santo Sacrifício do Teatro.
6º NÃO COMERÁS rebuçados, pipocas, caramelos, chocolates, pastilhas, comprimidos; tirando-os muito devagarinho, fazendo com o papel e as pratinhas o mais diabólico, satânico e herético ruído numa sala de espectáculos em que se celebra o Santo Sacrifício do Teatro.
7º NÃO LEVARÁS relógios com pipis electrónicos, telemóveis e sacos de plásticos que andarás constantemente a pôr, ora entre as pernas, ora no colo, perturbando os que celebram o Santo Sacrifício do Teatro.
8º NÃO LERÁS OU FOLHEARÁS o programa durante a celebração do Santo Sacrifício do Teatro para tentar saber qual é o nome de determinado Actor, ou para tentar perceber a sequência do Santo Sacrifício do Teatro.
9º NÃO PEDIRÁS borlas ou insistirás em descontos, a que não tens direito, para assistir à celebração do Santo Sacrifício do Teatro.
10º NÃO OLHARÁS «com umas grandes vendas» para o vizinho do lado, que achou religiosamente Graça ao que tu não achaste, ou que, piamente e cheio de Fé, se levantou logo para aplaudir, enquanto tu bates palmas por frete e já a pensar ir a correr tirar a porcaria do teu carrinho, ou a porcaria do teu sobretudo do bengaleiro, mais cedo do que os outros.
ASSIM: SUBIRÁS PURO AOS CÉUS!
OU
ASSIM: PODERÁS IR A 13 DE MAIO À COVA DA IRIA
OU
ASSIM: PODERÁS IR E COMUNGAR NO CASAMENTO REAL
de Sua Majestade Sereníssima Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael De Bragança, chefe da Sereníssima Casa de Bragança, Duque de Bragança, de Guimarães e de Barcelos, Marquês de Vila Viçosa, Conde de Arraiolos, de Ourém, de Barcelos, de Faria, de Neiva e de Guimarães; e de sua Augusta Noiva Isabel Inês De Castro Corvello de Herédia.
IDE E ESPALHAI A BOA NOVA!!

Mário Viegas: ver entrevista com Mário Viegas na Revista Agulha

Os pássaros


Ouve que estranhos pássaros de noite
Tenho defronte da janela:
Pássaros de gritos sobreagudos e selvagens
O peito cor de aurora, o bico roxo,
Falam-se de noite, trazem
Dos abismos da noite lenta e quieta
Palavras estridentes e cruéis.
Cravam no luar as suas garras
E a respiração do terror desce
Das suas asas pesadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia
Círculo de Poesia
Moraes Editores
1975

Damian Marley: hoje às 22h no Coliseu de Lisboa