O meu Poeta Carlos Tê

Carlos Tê revelou algumas vivências que me pareceram bastante significativas e muito despretenciosas. Nascido no seio de uma família modesta no Portugal de antes da revolução, no tal país cinzento narcotizado para a informação e para a cultura, Carlos Tê não tinha livros em casa. O seu contacto com os livros foi feito através do catálogo que o vendedor do Círculo dos Leitores lhe levava a casa. Carlos Tê passou a ler um pouco aleatoriamente o que lhe vinha parar às mãos. Mas talvez precisamente por causa disso foi aguçando o seu gosto literário. Foi no entanto a música anglo-americana que chegava de fora, o rock, os blues, que maior influência causou na sua formação cultural. Naquele tempo a música ouvia-se de letra na mão, a cantar cada palavra, e as letras daquelas músicas tinham a força de uma revolução que ainda não tinha acontecido ou que ainda não se tinha instituído. Talvez seja por isto, porque as letras dessas músicas tiveram na altura maior peso do que a poesia, que Carlos Tê insista em afirmar que é um letrista. Também porque a humildade é uma qualidade em vias de extinção que Carlos Tê parece desejar preservar. Eu também não gosto de ver ninguém a apregoar “eu sou o poeta”. Mas para mim ele é verdadeiramente um Poeta. Porque para mim há letras de músicas que são verdadeiros poemas e as letras de Carlos Tê são dessa casta. Voltando as coisas ao contrário, parece quase que o preconceito é meu, mas não é. Para mim a poesia não tem que ocupar um lugar etéreo, algures entre o céu e a terra. A poesia é tudo aquilo que eu sentir como poesia. Há letras de músicas que eu também cantava de disco na mão que são os meus poemas e não há ninguém no mundo que me possa convencer que isso não é poesia. Nem mesmo um Poeta como Carlos Tê.
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