O Vinho, Néctar dos deuses - I
Vinho! Vinho em catadupas!
Vinho em taças sempre cheias
que ele me suba à cabeça
e me circule nas veias!
Silêncio! tudo é mentira,
dôlo, traição, falsidade,
apenas a voz do vinho
nos pode falar verdade.
O vinho é o mágico filtro
da alegria e da saúde
em seus eflúvios benditos
voltarás à juventude.
Bebe, sim, bebe sorrindo,
para que aproveites bem
os fugidios prazeres
que a tua vida contém.
Bebe! que importa a tristeza
que as nossas almas inverna?
Bebe e sonha, pois no vinho
alcançarás vida eterna!
Moralistas, bebo vinho
como a raiz do salgueiro
sorve, de dia e de noite,
a água clara do ribeiro.
Dizeis que Deus sabe tudo?
nesse caso já sabia,
quando me lançou no mundo
o vinho que eu beberia.
Hei-de abster-me de beber?
Isso seria provar
que a omnipotência divina
é susceptível de errar.
Mussulmano, bebe vinho
e resistirás, dest' arte,
às setenta e duas seitas
com que tentam algemar-te.
Bebe vinho e serás livre.
das garras do teu tormento,
pois o vinho é que conduz
ao oasis do Esquecimento.
Vinho! tudo o mais é efémero
nesta vida transitória...
e ainda há quem acalente
sonhos de amor e de glória!!
Porque não bebes? Que ideia
tão loucamente te ilude?
Evitarás de beber
para poupar a saúde?
Que ideia fazes do corpo
que nasceu para ter vícios?
Acaso, será poupá-lo,
impondo-lhe sacrifícios?
Omar Khayyam, poeta persa do século XI, excerto de ROBAIYAT (Livro de quadras)
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