KaosArte

O Pasto da Koltura do KaosInTheGarden

Saturday, February 25, 2006

A Passagem das Horas

Em Portugal, como no resto da Europa, pintores e poetas tendiam a considerar as suas artes como manifestações totais, não diferenciadas, unindo-se em movimentos na procura comum de novas formas no devir das suas artes. As vanguardas tendem para o visualismo e as inquietações de ambos – pintores e poetas – revelam-se comuns.
Fernando Pessoa irá elevar o seu modo de expressão ao máximo expoente assumindo esteticamente a sua multiplicidade e desassossego e indo o mais longe que lhe foi possível na procura de novas formas de expressão [tal como simultaneamente Kandinsky fazia na pintura], criando teorias estéticas como o Sensacionismo.
O seu poema A Passagem das Horas, é uma ode sensacionista que Álvaro de Campos subscreve e dedica a Almada Negreiros; nela, Fernando Pessoa, exprime poeticamente a essência do Sensacionismo logo nos primeiros versos:

Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma cousa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento diffuso, profuso, completo e longinquo
(...)

Ao longo do poema, Pessoa exprime o seu eu múltiplo, o seu desejo total de experimentar e abarcar a realidade em todas as suas facetas para melhor poder exprimi-la. A própria forma do poema é totalmente livre, fruindo ao sabor da sensação do momento, não se deixando espartilhar por qualquer norma pré-estabelecida, rompendo com as formas do passado ao estilo próprio de um Álvaro de Campos futurista, numa desenfreada

(…)
Cavalgada desmantelada por cima de todos os cismos,
Cavalgada desarticulada por baixo de todos os poços,
Cavalgada vôo, cavalgada setta, cavalgada pensamento-relâmpago,
Cavalgada eu, cavalgada eu, cavalgada o universo-eu.
Helahoho-o-o-o-o-o-o ...

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